Digo mais palavrões. Saem-me com a mesma naturalidade com que eu chamava por ti. Como um hábito, como algo que passou a estar, a ser. Antes de sentir já o estamos a dizer - o teu nome, palavrões quero eu dizer. Na maioria dos dias já não te encontro, já não me perco dos teus detalhes. Embrenho-me nas palavras feias em jeito de graça como que intensificando tudo o que digo. Atenuando tudo o que sinto. É(s) o que restou do hábito - o teu nome, palavras feias quero eu dizer. Dizem que as meninas não as devem dizer, fica mal. Mas quem o diz também soube dar-te leves palmadas nas costas quando te foste. Ora, isso também pareceu tão mal. Foi nesse momento que deixei de ser menina, numa metamorfose que permitia dizer tudo o que sentia, tudo o que queria. É a doce realidade de quem tem cada vez menos a perder. E na maioria dos dias, meu amor, passei a preferir os palavrões ao teu nome. Eles não me respondem, não têm eco, não trazem a frieza que me deste na retirada, nem as palmadas nas costas de quem crê gostar da menina que viu em mim.
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