Ele só queria uma palavra. Mas o corpo já não deixava, ela bem que tentava mas naquela cama já tudo se começava a perder. Ele insistia, ela insistia. Era só umas palavras o que ele lhe pedia, as últimas - ambos previam - mas tal não aconteceu. É só mais uma falta, a dela veio logo a seguir porque é em vida que se dão as lições de moral, mas é na morte que as conseguimos ver e receber. Quando não há o toque são as palavras que ficam, quer para o bem quer para o mal. Mas as pessoas calam-se. Guardam tudo para si. Inventam a merda das homenagens apenas nos funerais. Até nos que acontecem a quem está vivo, pois os sentimentos também morrem. Antes mesmo de nós. Com a idade tudo piora. Com o passar da vida também. Descarregamos nos melhores as cicatrizes que os piores nos deixaram. Olhamos cada vez mais para o nosso umbigo. Só para o nosso umbigo. Contruímos muros difíceis de escalar. Cada vez se passa mais tempo sozinho porque ninguém está disposto a dar de si, ninguém está disposto a ter coragem e voltar a acreditar, ninguém está disposto a derrubar os seus muros quanto mais os do outros. E assim vai-se passando o tempo, poupando-se as palavras, ignorando os instintos até já não existir mais o toque, até ser realmente preciso dizê-lo e o corpo não deixar. Morte? Não, já não é disso que vos falo. O pior sobra sempre para quem está vivo.
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