14.11.16

"Foi o passeio mais bonito da minha vida."




Foi em noventa e cinco, voltou em noventa e seis. Passou o inverno frio numa casa que não a sua, num país que não o seu, esperando que com a Primavera chegasse a boa noticia que o companheiro de uma vida não tinha que perder a visão. Nos intervalos dessa espera, entre os soluços da esperança que os movia para tão longe, deixou que se lhe mostrasse os recantos de uma cultura que os acolheu. Guiados pela filha – “que Deus a tenha” – disse-me com os olhos a lacrimejar. “Tu sabes como ela gostava de nos mostrar coisas bonitas”. E eu soube. Senti-lhe a saudade. Falou-me daquele dia, da história por detrás de cada fotografia, do rio que entrava pela montanha desconhecendo-se o seu fim, dos animais demasiado grandes para o que estava a habituada, do autocarro que ainda se via por detrás deles, das fachadas que escondiam um vazio para além e de uma pequena cidade deserta por uma guerra. Até que parou naquela imagem onde se viam cúmplices numa coragem de meia-idade. “Foi o passeio mais bonito da minha vida” – sorriu. Como se todo o sacrifício tivesse valido a pena. E voltaram, para juntos continuarem a acreditar.

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