27.9.16

Quando a noite se tornava difícil...

  

Quando a noite se tornava difícil, e o teu número já não era uma opção, eram eles quem atendiam as minhas chamadas. E naqueles dias em que o sorriso teimava em não aparecer, eram eles que não exigiam alegria mas que me queriam ainda assim. De qualquer jeito. De qualquer humor. Naquelas horas chatas e absurdas em que só me apetecia falar de ti, vezes e vezes sem conta, eram eles que se faziam de surdos e me deixavam falar como se fosse sempre a primeira vez. Eram eles que apareciam de surpresa de take away na mão, de todas as vezes que te esqueceste de me convidar para jantar. Eram eles que me arrastavam até à pista de dança, de todas as vezes em que não me levaste a dançar. Quando me olhava no espelho e já não via beleza alguma, eram eles que me lembravam o quanto de mim estavas a perder. E quando no pico da raiva te odiava, eles tinham sempre os melhores insultos sem nunca rejeitar a ideia de voltares para mim. De todas as incertezas que me davas eles tiravam o prefixo. De todos os medos e fraquezas que me impunhas, eles pegavam e trocavam por coragem. Na tua ausência eles eram presença incondicional. E tudo isto acontecia estivessem eles num bom ou num mau dia, com a paciência que nunca tiveste para mim. A amizade é isto, sabes? Na alegria e na tristeza até um amor (que dizes) maior os separar. Onde estavas tu com a cabeça quando deles me tentaste afastar? E onde estava a cabeça de todos aqueles que se deixaram levar? 

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